05/01/12

Mundo de Cão


Ao deparar-me com o assunto da violência generalizada com que a sociedade se tem deparado nos últimos tempos, e em particular com a violência escolar, surgem conceitos que na sua maioria manipulamos como sinónimos mas que em muito diferem, senão vejamos:violência, delinquência, conduta anti-social, problemas de comportamento ou conduta, indisciplina, distúrbio desafiante de oposição... e tantos outros, tornaram-se tema diário de conversa entre a comunidade educativa.

O certo é que enquanto não nos debruçarmos sistemática e afincadamente sobre estas temáticas, sobre as causas, especificidades e tudo o que as envolve, esmiuçando até ao ínfimo pormenor para que nos seja permitido reconhecer e lidar imediatamente, da forma mais correcta e urgente estes problemas, continuaremos a assistir a uma comunidade educativa em que os intervenientes caminham de costas voltadas...

E pegando nas palavras de José de Sousa Miguel Lopes (num artigo que poderão, e deverão, ler na integra AQUI


"As condições salariais, a desvalorização do professor, a pouca atenção a que muitos governos vêm dando à escola pública são alguns dos factores que fazem com o próprio educador acabe, sem perceber, reproduzindo e reforçando a discriminação e o preconceito, os quais geram violência"

e num a coisa revejo muitas, senão todas, as situações injustas a que tenho assistido no contexto educativo, e em que as "desculpas" são remetidas para o comportamento insolente e rebeldia que tanto caracterizam as crianças e jovens dos nossos tempos, não são apenas os aprendentes que terão de se adaptar aos professores mas sim os educadores que terão de se interessar por estes problemas, principalmente pelos suas crianças enquanto ser único que para além de deveres, como todos, têm igualmente os seus direitos, de entre os quais às suas particularidades, ao acompanhamento, educação, compreensão e atenção, adequadamente devidas pelos adultos que os rodeiam.

Como diz um grande amigo "nós temos as crianças que merecemos" (na medida em que a sua educação depende da comunidade adulta...)

Não quero com este pensamento atingir susceptibilidades de situações ou casos mais graves que têm surgido, mas continuo a acreditar que as crianças (à semelhança dos adultos) não são naturalmente más...

E terminando com palavras sábias e acutilantes de José Saramago, basta analisarmos este mundo que as (nos) rodeia, para percebermos um pouco do efeito reactivo...
"Este mundo não presta, venha outro.
Já por tempo de mais aqui andamos
A fingir de razões suficientes.
Sejamos cães do cão: sabemos tudo
De morder os mais fracos, se mandamos,
E de lamber as mãos, se dependentes
."




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