Ar fresco

A poucos dias de completar 36 anos, dou comigo a pensar que nunca me “vi” como “mulher”.

“Mulher” naquele sentido de aparentar uma imagem de trintona (até a palavra não me soa a “mim”). Muitas vezes, nos casos em que tenho de tirar cópias a B.I. de outras pessoas, faço sempre o jogo do “deixa lá ver se acerto?” e normalmente erro, simplesmente pela dita aparência.

No outro dia, diziam-me, “tu és podre de boa!”. Se calhar estão a fazer o mesmo que eu fiz na altura, levantei as sobrancelhas e fiquei surpreendida com tal afirmação.

É claro que no “patamar”dos 20 nada nos surpreende mas nos trintas (e já a meados) há certas coisas de que não estamos á espera até porque eu, uma vez que nunca me “vi” como mulher, do “baixo” do meu metro e cinquenta e sete acredito não ter o perfil físico do que se considera um mulherão… é a este nível que fico perplexa… a própria palavra deixa antever uma mulher alta, de porte seguro… bom! não é preciso definir que todos sabemos o que é (ou não?). Recordo-me de muitas vezes ter ouvido afirmações do género e sempre pensei que não estavam ligadas á minha maneira de ser. Lembro-me, ainda, de certa vez, ao entrar numa discoteca, me terem dado uma ficha de inscrição para a eleição de “miss” da dita (que não me lembro do nome, mas também já pouco deve de interessar até porque agora, por certo, já deve ter dado lugar a um qualquer “club” pois dizer discoteca até está fora de moda). Ia eu na ficha de inscrição, na altura nem liguei. Para mim a ficha estava a ser distribuída por todas as “frequentadoras” mas afinal não estava e só dei conta quando me vieram explicar que estavam á espera da minha inscrição para dar inicio ao “certame”… lá voltaram as sobrancelhas a erguer-se, as minhas e as do meu marido… sim já era casada, e lá entreguei a ficha por preencher, não por estar casada, mas por não me considerar “mulher”.

Eu sei que parece confuso, até porque sou bem feminina, e ando aqui ás voltas para ver se consigo passar-vos o meu ponto de vista.

Conheço muitas mulheres, algumas até mais novas que eu, que têm uma aparência mais “antiga” do que a verdadeira idade e é nesse sentido que aqui se enquadra o “mulher”. Os cabelos podem ser compridos, sim senhora! Mas deixem as lacas e os rolos de lado, optem por um corte simples e natural (no meu caso não há laca nem rolos que lhe dê jeito). A roupa não tem de ser, forçosamente, “reservada”. Com calças de ganga também podemos ficar elegantes (ou não?).

É claro que compreendo o que muitos de vós poderão estar a pensar… não quero mudar a sociedade, até porque há gostos para tudo e todos, mas continuo a admirar-me que certos homens e mulheres se preocupem em fazer dietas ditas milagrosas e não se preocupem minimamente em rejuvenescer a sua imagem.

O “podre de boa” continua a soar-me em exagero. Continuo a definir-me (a mim própria claro) como eterna “rapariga” e fico contente (ai isso fico), e não sou nada de modéstias (acho que devia ser mas não sou e pronto!) quando me perguntam a idade, e sem medos lhes digo “35!” (p’rá semana já será ”36!”) e me respondem, de sobrancelhas levantadas: “Nem 30 eu lhe/te dava!” (e só digo isto porque, de facto, já o ouvi umas quantas vezes e não, não foi para me agradar).

Creio que os meus amigos e amigas já entenderam a tal “mulher” com a qual não me identifico e quanto ao marido, eu também o continuo a ver como o rapaz que conheci no dia 14 de Fevereiro de 1988, e será o eterno rapaz que me ficará interiorizado…