04/02/05

Deus não desistiu de mim


Quem leu o meu primeiro post, por certo que se lembra de eu escrever que naquele dia há oito anos atrás seria o primeiro dia do resto da minha vida…

Dói-me muito… mas tenho de vos contar… tenho de contar porque sei que ao relatar o que me sucedeu posso ajudar alguém. Sei que posso ajudar a Luar, por exemplo… pois por mais que me doa tenho de fazer ver que os milagres existem.

Tinha 27 anos quando engravidei pela segunda vez. Já tinha uma menina linda, de 3 anos que faria 4 bem antes do maninho nascer… (sim era um menino!)

Gravidez normal… tudo nos conforme… é claro que os enjoos foram mais que muitos mas isso é normal de certas grávidas e eu fui uma das que perdeu muito peso… e depois é claro recuperei…
No dia 19 Janeiro de 1997, um lindo domingo de muito frio e muito sol também, acordei e ao ir à casa de banho vi que estava a perder sangue. Chamei o meu marido e lá fomos nós para a maternidade. Chegada à maternidade, e depois de ser “vista” e de me fazerem uma ecografia e ligarem-me o CTG, disseram-me que não era nada alarmante era apenas uma ferida (muito normal nas gestantes) mas que iriam reflectir sobre o meu caso pois eu morava longe e a equipa achava que o bebé tinha pouco liquido…

Entretanto fui fazer uma outra ecografia num equipamento mais “sofisticado” pois era mais pormenorizada (ao que me explicaram)… e decidiram-se por provocar o parto, até porque o bebé estava bem e já estava na altura de dar as boas vindas a este mundo…

Ligaram-me ao soro e preparam-me para que entrasse em trabalho de parto… ao meio dia, nada… entretanto ligaram-me a uma máquina especial para bombear o soro afim de acelerar o trabalho de parto pois eu ainda não tinha contracções… resultou e passadas algumas horas já estava cheia de dores.. no entanto o que me preocupava é que eu sentia que a hemorragia era grande e ninguém ligava a esse pormenor… a tarde já estava no seu fim e quando vejo uma enfermeira dou-lhe a conhecer os meus receios… ela destapou-me e chamou a médica que me tinha internado… decidiram rebentar as águas e foi o pânico geral… afinal não havia quase líquido nenhum (visível) pois era só sangue… e a médica no meio dos seus sentimentos só dizia “é sangue a mais… é sangue a mais!” e “tragam já uma maca vamos operar!” eu que estava preparada para que fosse tudo normal, conforme fora o parto da minha menina e que até tinha o marido preparado para assistir… desatei a chorar no meio de tanto pânico e ainda perguntei “então e o meu marido?” e já no elevador ela disse-me “o pai não pode assistir pois vai ser uma cesariana de urgência e nós não sabemos como vai correr!” beeemmm! Que merda é esta?!!! (foi o que me ocorreu) ao mesmo tempo que as lágrimas teimavam em cair… eu estava a descolar a placenta, explicou-me a médica, mas o bebé estava bem (pois continuava ligada ao CTG e ouvia-se as batidas do meu menino)… ainda me lembro da enfermeiro perguntar “e se não houver sala para operar?!” “nestas situações há sempre sala é uma URGÊNCIA!” respondeu a médica… bonito e só agora é dão por isso?!! Eu cheguei cá ás 09h00 da manhã e agora, já de noite, é que notam que é uma urgência! Era só o que eu pensava… e entretanto não deu tempo para mais nada pois já eu estava de máscara na cara e a contar “para trás”… até aqui menos mal mas quando acordei… bem para os médicos eu não acordei… para eles estava nos cuidados intensivos… e senti a presença do meu marido ao meu lado e até sei que ele se debruçou sobre mim e quando ia a dizer alguma coisa ouve uma voz feminina que lhe disse “escusa de falar com ela que ela não houve nada!!!” percebem agora porque tenho de vos contar?!! Eu, para os médicos estava inconsciente, para eles não ouvia… o certo é que não só ouvi como senti o que o meu marido fez e disse… e foram os piores momentos da minha vida… ouvia o ritmo cardíaco insistentemente (o meu) e depois alguns alarmes dos aparelhos e as correrias para saber o que se passava, sentia as picadelas nas mãos e a dor (meu Deus) a dor é difícil de relatar porque foi descomunal e eu sem poder falar nem reagir, até ouvia o som da televisão que vinha de outra sala provavelmente (ou do gabinete da enfermeira) não sei… mas ouvia e sentia…e só passados dois dias é que pude abrir os olhos… e só passados dois dias, quando saí dos cuidados intensivos é que a médica me disse “pregou-me cá um susto?” “olhe que perdeu muito sangue, e quando digo muito foi mesmo muito pois nós na obstetrícia estamos habituados a ver muito sangue…” “sabe… se acredita em Deus pode acreditar que o seu caso foi um milagre pois normalmente quando há descolamento de placenta nunca temos a sorte de ficar com o filho e a mãe…” e ela chorava ao mesmo tempo que eu também… e depois pediu-me se podiam fazer um estudo sobre o meu caso (que era importante e blà blà blà) e é claro que foi muito doloroso passados 2 dias eu falar de tudo o que sentia se nem eu sabia muito bem o porquê, se ainda estava revoltada com toda a situação, se ainda sentia dores que me impediam de ver e de ter o meu menino…


Foram os piores momentos da minha vida mas acredito que houve um milagre e sei que esta é a minha segunda vida e sei que se tive forças para percorrer o "túnel" terei força para vencer tudo quanto exista neste mundo…

Para ti Luar (e outras que possam estar a perder a fé) este mundo é belo e os milagres acontecem eu e o meu A. somos os exemplos vivos… desistir nunca… ter fé sempre…

Agora sei que Deus não desistiu de mim...



9 comentários:

Anónimo disse...

Um relato impressionante.
Deve ter sido mto dificil para ti, contar tudo o que aconteceu.
Apesar de mta coisa má que existe aqui, como em qualquer outro lugar, é tocante ver que existe solidariedade, amizade, companheirismo e preocupação com as outras pessoas.


Albatroz2 (http://100stress.blogs.sapo.pt)

Anónimo disse...

Deus nunca desiste da vida...e a maternidade é um dos seus tesouros sagrados. Mesmo que não o entendamos a vida é eterna. Apenas a sua manifestação e que muda. Talvez tenha compreendido isso quando, há quase 3 anos toquei o corpo morto e morno do meu pai...que afinal vive ainda em mim. Obrigado pelo seu testemunho e partilha. BfS. António (http://momentosdevida,blogs.sapo.pt)

Anónimo disse...

Adorei... lindo..comovente... "aterrador" ao mesmo tempo!
Nem tenho palavras! obrigado pela tua visita ao meu cantinho! Felicidades!

perdida nas palavras
www.perdidanaspalavras.blogs.sapo.pt

Amanda disse...

p/Albatroz2: ainda é extremamente difícil... mas há feridas que temos de mostrar... Bom Fim Semana
p/António: costumo dizer que os laços de mãe (pai) e filho (s) nem a morte separa... não tem que agradecer... Bom Fim Semana
p/Perdida nas palavras: ainda é aterradora a lembrança... eu é que agradeço e retribuo as "felicidades"... Bom Fim Semana

Isa Maria disse...

Este teu relato é impressionante mas foi bomque o tenhas feito eata partilha connosco.
Tenho dois filhos e os partos foram normais por isso não sei o que é spfrer desse jeito.
Obrigado pelas dicas que me deste para colocar imagens. Eu já tinha o programa hello, mas mesmo assim não consegui colocar a imagem que queria. Devo estar um pouco lerda...

Anónimo disse...

Nao consegui conter as lagrimas. Milagres acontecem a kem acredita neles e a kem merece! Parabéns **** anewstart

Amanda disse...

p/Maryjo: Sortuda!!! (ainda bem). Lerda!!!... as fotos já lá estão!
p/Anewsart: eu também não as consigo conter e quanto aos milagres... eu SÓ posso acreditar. Obrigada!

Anónimo disse...

Amiga , como tu bem dizes nas alturas mais críticas o nosso corpo , a nossa mente ganha forças quase sobrenaturais e conseguimos ultrapassar tudo . Um testemunho corajoso , honesto e de grande exemplo para quem vive situações parecidas . Com este teu post podes estar a ajudar imensa gente .Um beijo enorme e obrigada por tudo . Mónica

Amanda disse...

p/Mónica: e por saber que posso ajudar muita gente é que voltei a sofrer tudo (porque a ferida estará sempre cá) mas vale a pena. Beijos grandes