Há um certo local ermo onde costumamos colocar as pessoas de quem gostamos e que, por uma ou outra razão, queremos ou sentimos necessidade de defender e cuidar.
Esse local é em sítio extremamente isolado, de portadas fechadas, com portão de grades reforçadas por grandes painéis de aço. De construção robusta e resistente à maior das intempéries ou à tão iminente ameaça bacteriológica ou biológica. E nem os diversos sistemas de segurança foram descurados. Munido de detecção de intrusos, detector de incêndio e vários alarmes para tudo e mais alguma coisa, inclusive os que lembram a hora da toma dos medicamentos (sim, porque não há pessoa que aguente lá habitar mantendo-se saudável)
É aí que tendemos a colocar as pessoas que nos são mais queridas só porque nos esquecemos dos gostos e prazeres delas, só porque as queremos afastar de toda e qualquer maleita ou coisa ruim e nos esquecemos que elas também têm direito a uma vida. E como a palavra vida por si só transmite, têm direito a escorregar, cair, executar manobras perigosas, respirar pelos seus próprios pulmões, ver com os seus próprios olhos, sentir o arrepio na pele, as lágrimas na face, o sorriso nos lábios...
Digam-me como podemos nós explicar o cheiro de uma manhã primaveril?
Os tons do sol poente?
O cheiro suave de um bebé?
O sabor a maresia que se solta do mar revolto?
Ou dar a entender o cintilar do céu estrelado?
Ou como poderemos nós mostrar a estrada mais segura sem que conheçam sequer os trilhos, sem terem percorrido os caminhos pelos próprios pés, sem terem conduzido o seu próprio automóvel?
Como podem evitar o fundo do poço se não lhe sabem os contornos e a localização?
Pois é…
Mas tendemos sempre, constantemente, em colocar as pessoas que amamos nesse local tão inapropriado à vida e felicidade humana, só porque somos egoístas e apenas pensamos nos nossos sentimentos, em não sofrer com as “más” escolhas que fizerem, que tiverem, porque o sofrimento deles se reflecte na dor que nos dilecera o peito, a alma.
E porque a melhor maneira de mostrar que gostamos e estimamos um pássaro é deixá-lo voar.
A melhor maneira de gostarmos e cuidar de uma flor é deixá-la por arrancar à terra, não colhê-la da natureza.
O conceito não é devolver-lhes a liberdade mas sim não lhes retirar o direito à vida.
E sim, por mais difícil que seja deixá-los andar à chuva, ao vento, molhados e sujeitos a uma pneumonia, em detrimento de os fechar naquele local fechado, escondido e “seguro”, a maior prova de afecto, carinho, amor e respeito é deixá-los sentir, correr, saltar, sorrir, viver, voar, por colher…
11/02/09
Por Colher
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2 comentários:
fizeste-me lembrar aquela história em que um rapaz ao ver uma borboleta a sair do casulo com bastante dificuldade decidiu ajuda-la sem saber que o tempo que ela demorava para se libertar era o necessário para que as suas asas endurecessem o suficiente para voar.
a ajuda dele matou-a porque foi rápido demais e ela não conseguiu voar!
pois vicio
essa é a outra variante
deixemo-los voar então
sozinhos!
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