31/01/09

Tudo Bons Rapazes




Havia um certo código de honra por entre a malta lá do bairro (tudo bons rapazes, claro, e não me refiro aos do sucesso de bilheteira que ocorreu nos anos 80’s) que revejo ainda hoje nos miúdos da actual zona onde resido.

Olho-os e ainda me parecem uns pardais à solta, mas estes pardais são mais actuais, já devem de ter feito os uploads necessários e já não temem apanhar as migalhas na esplanada do café.

Ora, “no meu tempo”, os pardais limitavam-se a saltitar entre uma ou outra semente que conseguissem vislumbrar pelas suas cearas e como dizia, havia um tal código a seguir entre os rapazes lá do bairro. Deste ou qualquer outro bairro. Na altura os miúdos tinham um secretismo que seguiam, um código de honra que não admitiam transpor e quando esse código se quebrava e lhes feriam a honra eles lá andavam uns bons segundos agoniados como quem anda um ano inteiro a agonizar-se pela morte do periquito. E atenção que já na adolescência uns bons segundos é mesmo uma eternidade e considerado um verdadeiro desperdício para aqueles rapazes pois sempre eram menos uns pontapés na bola ou menos umas boas fisgadas na cócó (atenção que é galinha pequena) que se passeava com os pintos atrás.

Já sei, já se estão a perguntar “mas que raio de código é esse?”. Pois esse código de honra, como não poderia deixar de ser, tem algo a ver com raparigas. Tanto é que quando alguma miúda lá do bairro decidia namorar com um pardal de outra gaiola, eles (os bons rapazes lá do bairro) passavam uns bons segundos a lamentar-se, e é quando (já naquela precoce idade) começam a surgir as prodigiosas perguntas retóricas: onde tinham eles falhado? O que é que o outro tinha de melhor que eles? Tem ele mais berlindes que nós? Ou, o “guelas” maior? O que é que a gaja viu nele? Ou até, o que será que o bairro dele tem que o nosso não tem?!!

Pois é nesta última questão que reside a dor maior, a punhalada mais cruel, o acto mais ignóbil que alguma mulher (ainda que em projecto, como eles na altura teimavam em acreditar) pode cometer para com o bando de pardais lá do bairro!

Bando que é bando jamais deixa fugir uma garina para outra gaiola. Jamais deixa escapar um troféu da sua vitrine, e quando a garina é das mais giras, pois!… uiii! Mas que agonia, que punhalada, como foi ela capaz?!!

Salvem a pátria! e AS MIÚDAS DO BAIRRO!!

Pois é, vejo no bando de pardais cá da zona o mesmo código de honra. A mesma dor nesses eternos segundos de agonia. Quando uma miúda da rua (ou das circundantes) resolve andar (que agora já não se diz namorar) com um pardal de outra gaiola.

Isto tudo vem a propósito, se é que há algum propósito, daqui na árvore (como quem diz, cá em casa) haver um pardalito que já assumiu esse código com a maior das suas honras e de lhe ouvir, volta e meia, um tão salutar:

-“A malta já esteve a combinar e vai-lhe partir os cornos!”

Pois então, nessa altura é quando se me abre um sorriso nos lábios e penso: afinal há coisas que nunca mudam… e ainda bem!


(para além de que fica uma pergunta no ar: por onde andará a tão badalada solidariedade masculina?)


2 comentários:

Bruno Fehr disse...

A mulher está cada vez mais emancipada e o homem está cada vez mais falso.

Amanda disse...

Bruno Fehr:
Também mas não só!
Beijinho