20/07/06

Príncipes de Ninguém

Muitas vezes me pergunto onde ficou a nossa inteligência como seres racionais.

João (nome fictício) é um menino de 9 anos. Tem um físico acima do percentil para a sua idade e uma aparência rechonchuda. Tem brinquedos caros e muitas vezes cobiçados pelo meu pequeno guerreiro (e não só). João é um menino que, apesar de ter tudo (ou mais) do que parece ser necessário ao bom desenvolvimento de uma criança, tem um olhar triste ainda que sorria.

A cada riso parece estar-nos a pedir ajuda.

Fixa os olhos em nós como quem estende a mão quando se sente cair.

João é vítima de maus-tratos por parte do pai

É duro eu sei, tanto que as lágrimas tendem a escapar-me numa tentativa de libertar todo este sentimento de revolta

João é o mais novo de uns quantos irmãos (ao certo não sei quantos são)

Vive num andar de um prédio novo e faz-me alguma confusão os vizinhos “directos” não se manifestarem por tais actos abomináveis

Não moro junto do quarteirão dessa dita “família”, nem sequer no mesmo bairro.

É, no entanto, mais uma história do conhecimento da população geral, que circula livremente pelas ruas da vila. É revoltante pensar que o “sistema”, depois dos principais “dirigentes” apelarem á denúncia de tais actos, ainda deixam tais seres em liberdade. E como se não bastasse em pleno seio familiar e em contacto com a sua presa.

A situação é de tal maneira grave que o dito individuo já esteve, por várias vezes, internado após as cenas mais chocantes que possamos nos aperceber (a última teve como “interveniente” um cutelo)

João continua a sorrir, continua a vir tocar á campainha para chamar os meus filhos para brincar

Continua a olhar-me fixamente

E, ao contrário do que se passa junto de algumas famílias, consegue ter um comportamento tranquilo e dócil junto de nós

A nossa sociedade é cruel e pior é vermo-nos e sentirmo-nos de mãos e pés completamente atados

Consigo, agora, compreender os delinquentes revoltados que vagueiam pelos becos

Só espero não ver o João num deles…

6 comentários:

Anónimo disse...

Cara Amanda, e a denúncia? Não basta vermos, temos que actuar. Se fosse do meu conhecimento directo, garanto-te que denunciava. Está consignado em LEI. Pensa nisso. Compreendo-te, mas creio que ia mais longe. Que sei eu, podes dizer. É verdade, que sei eu?
Um Bj.

Anónimo disse...

Keops: a denúncia tem de ficar para quem ouve, vê ou presencia algo. O que eu sei é o que se conta na vila e o que me chega aos ouvidos são as palavras desabafadas ao meu filho mas posso dizer-te que a comissão de apoio aos jovens em risco sabe deste caso... deverá haver mais denúncia para actuarem? é triste mas é assim que estou: atada! No entanto compreendo-te, também eu pensava que estes casos só existiam por falta de denúncia, mas afinal estava redondamente enganada. Beijos

Aragana disse...

Amiga.. tu podes ir relatar a tua "suspeita" à Judiciária.
Há pouco tempo, um agente explicou-me que qualquer pessoa pode dar inicio ao processo de maus tratos e nem os entes familiares o conseguem fechar depois de aberto.

Se consegisses mais 1 ou 2 testemunhas era o ideal.

Não cruzes os braços!

Bjus

Anónimo disse...

Sabes Ganita, desde que uma psicologa amiga denunciou, á judiciária, uma situação relacionada com um menino que ela apoiava e apesar dos exames médicos que provavam dos maus tratos e abusos sexuais, e depois de lhe prometerem que aquele pai jamais iria estar junto do filho... ainda assim ela ficou completamente de rastos quando ás 23h00 desse mesmo dia o pai saiu da judiciária (gritando por vingança de quem o havia denunciado) e foi direitinho para casa onde já estava o filho. Ora provas físicas e reais, devidamente argumentadas por técnicos devidos, não chegaram. Chegarão as minhas poucas palavras?! pois... daí eu fazer referência ao "sistema". É fácil denunciar e não é isso que me preocupa. Difícil é o processo caminhar pelo que deveria ser correcto... beijo (ainda assim ficarei atenta, mas denunciado já este caso foi)

Luis Carlos disse...

Amanda,

A respeito de crianças sou bastante sensível e fico com os cabelos em pé.


Li o teu post, e senti-me triste. Procuro na minha cabeça solução, procuro algo que dizer.

As leis deste país não protegem o mais fraco, para mim, em caso de denúncia, é afastar de imediato os pais da criança, até se chegar a conclusões.

Amanda, pelo que tu contas, já se fez tudo o que é possível por lei. Se calhar, o sistema está à espera que o caso chegue à televisão, com a notícia da morte do João por causa dos maus tratos, para depois se fazer grandes debates televisivos, que nos levam à nausea.

Estive ligado ao movimento escutista durante 20 anos, a minha mãe durante muitos anos foi ama de crianças. E estas situações de maus tratos, não só físicos mas também psicológicos, com crianças revolta-me.

Há uma coisa que tu podes fazer, que é quando ele olhar para ti com aquele olhar, pega nele por uns momentos, deixando o teu filho de lado, dizes que vais ter uma pequena conversa com João, e então abre-te para ele, diz-lhe que gostas muito dele, e que ele pode contar contigo para qualquer coisa, dispõe-te a ouvi-lo sempre que ele desejar, diz-lhe que se ele quiser passar mais tempo em tua casa não há problema.

Proponho-te isto, para que no João não cresça o ódio, o rancor, a raiva, e coisas afins, que em nada ajudam ao crescimento equilibrado do João, e tu, Amanda podes fazer a diferença neste caso, faz dos momentos em que podes estar com o João, momentos sagrados para ele, momentos de paz, momentos de serenidade. E para isto não é preciso um decreto-lei aprovado no parlamento.

Fico por aqui. Mas podes contar com toda a minha disponibilidade para continuarmos a falar sobre este ou outro assunto.

Até já,
Luís Carlos

Anónimo disse...

Que deus acorde de uma vez por todas...